quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Créditos

 Estou preso nos créditos

O filme acabou, só restam os nomes

Momento nenhum agora inédito

Somente o prólogo da arte dos homens


A história foi contada

O arco percorrido

A lição ensinada

O roteiro todo lido


Mas é gente demais a ser creditada

Os nomes não acabam

As pessoas que neste filme trabalharam

Sobrepõem a sala já iluminada

Do cinema, já vazio


A câmera, no entanto, não foi desligada

Eu olho as lentes, as luzes e o cenário

Preso no final d'um conto de fadas

Pano de fundo, feito um otário

Espero secarem as letras desse rio


Aconteceu (tudo) o que tinha que acontecer

E a narrativa não se faz mais presente

Até de minha parte foi dado o parecer:

"Mal posso esperar por estar ausente"


É vã qualquer ação significativa

Pois a última cena fechou o enredo

Então existo, apenas, no plano de fundo,

O limiar entre mundos, do chão oriundo,

A fronteira final entre o fim e o Medo.


Das cenas vívidas que outrora estrelei

Até as longas pausas explicando onde errei

Fui todo eu impulso, paixão e ego,

Antes perdido, fraco e cego,

Agora cansado, em aguardo eterno

Até que se acabem os créditos desse inferno.