Estou preso nos créditos
O filme acabou, só restam os nomes
Momento nenhum agora inédito
Somente o prólogo da arte dos homens
A história foi contada
O arco percorrido
A lição ensinada
O roteiro todo lido
Mas é gente demais a ser creditada
Os nomes não acabam
As pessoas que neste filme trabalharam
Sobrepõem a sala já iluminada
Do cinema, já vazio
A câmera, no entanto, não foi desligada
Eu olho as lentes, as luzes e o cenário
Preso no final d'um conto de fadas
Pano de fundo, feito um otário
Espero secarem as letras desse rio
Aconteceu (tudo) o que tinha que acontecer
E a narrativa não se faz mais presente
Até de minha parte foi dado o parecer:
"Mal posso esperar por estar ausente"
É vã qualquer ação significativa
Pois a última cena fechou o enredo
Então existo, apenas, no plano de fundo,
O limiar entre mundos, do chão oriundo,
A fronteira final entre o fim e o Medo.
Das cenas vívidas que outrora estrelei
Até as longas pausas explicando onde errei
Fui todo eu impulso, paixão e ego,
Antes perdido, fraco e cego,
Agora cansado, em aguardo eterno
Até que se acabem os créditos desse inferno.