terça-feira, 8 de março de 2011

Mulher

O que seria de mim se assim não fosse?
Viveria eu num mundo desigual,
Onde a minha única arma
Seriam as curvas corpóreas, temporárias?

Seria eu fadado à exposição necessária,
Á fraqueza interna, à dependência arbitrária?

Eu seria um pária.

O desgosto me invadiria os pulmões,
E eu me julgaria inapto à sobrevivência.

Eu seria propriedade, seria posse,
Nunca proprietário d'um igual.
Eu pensaria menos, não por opção,
Mas por ser destinado a ser sensual.

Eu seria o Mal.

Seria pecado, impureza,
Gado, sutileza,
Servo, com certeza.

Mas será que seria?
Ou será que sou?

Serei eu o Mal gerado
Pondo a culpa do próprio Ser
No lado errado,
Na origem do meu viver?

Serei eu o criador dos rótulos
Que grudam ao nascer
E não se desfazem jamais?

Sou a manifestação dos medos,
A insegurança dos segredos,
A manutenção da quimera
Da auto-degeneração.

Vivo, então, em desgraça plena,
Numa vantagem obscena,
Cruel, sem pena,
Para com quem não tem culpa
De nascer com o dom da Vida.

Personifiquei a inveja
Através de milênios de repressão,
Colocando-me acima e fazendo crer reais
Essas minhas palavras,
Vigiei de perto a provação alheia
E a santifiquei, criei mártires entre elas.

Agora a culpa me habita.
O plasma mensal não lava
As lágrimas do sofrimento,
Nem o alívio de um momento
Sacrifica para si um intento

De ser livre, igual, maior
E, enfim, monumento.

Aqui eu só as suplico:
Abdiquem da dor e da culpa,
Sejam amazonas na luta,
Sejam poetas da conduta,
E tornem-se o que nasceram para ser.

Mulheres.