domingo, 12 de fevereiro de 2012

Condições

Ao respirar o sopro do litoral,
Escalar as alturas do eu,
Libertar-se do inútil e banal,
Segregar-se dos seus...

Involuntário, sereno desespero,
Perder de vista a própria existência
No momento, ir além da própria consciência
Ao vento, conceber um mundo inteiro...

O presente atrasa a marcha
E ao caminhar sozinho
Sem vislumbrar nenhum caminho
O espelho do futuro se racha.

"São só pensamentos" - são?
Reparos malfeitos num ego
Débil, vil e cego
Sucumbindo à solidão.

Eliminar da mente a reflexão,
Recortar dos vícios o Não,
Libertar-se da liberdade, então
Serei feliz.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Esperando

Anoitece
E o sibilar dos ventos costeiros
Sussura-me doces tragédias,

É quando uma angústia calma
Toma de assalto as ruínas do meu peito,
Quando chega-se à percepção definitiva
De que não há mais nada a ser feito.

Na madrugada irei chorar com as nuvens,
Beber das minhas próprias lágrimas
Para não manchar as páginas
Do prólogo do meu epitáfio.

E acordarei sonhando
Uma vida mal concebida,
Sem direção definida,
Enquanto a tarde vai passando.

É só por isso que estou esperando.

Soneto Ausente

Enfim floriu
A venenosa rosa que cultivei
Em total empenho, as dezesseis
Pétalas cor de sangue jorraram do rio.

Um sorriso dolorido manchou-me as faces,
Suprindo, sem satisfazer, uma ânsia
Que carrego comigo desde a infância:
Saborear a dor dos alheios pesares.

Assim desfaço de mim furtivamente
Pra que eu mesmo não me atente
À dissimulação depravada da minha própria consciência,

Além das mentiras que vivo,
Das falsas trilhas que sigo,
Achei paz na dor, conforto na ausência.

Tártaro

Nesse plano além do terror
Torturam-se as mentes sãs,
Permeados por ares malsãs
São ensanguentados gritos de dor.

Os rios transbordam veneno
Nas margens pontuadas por corpos
Mortos, inchados, em rigor mortis pleno.

Membros mutilados balançando com o vento,
Espalhando pestilência e morte
Que mesmo o organismo mais forte
Faz vomitar as tripas no chão lamacento,

E os corvos sedentos de sangue
Em fúria cega alcançam
Onde os sonhos infantes descansam
E rasgam-lhe os pescoços enxangues.

É aqui onde os inocentes gritam
Ao ter os olhos arrancados,
Os escalpos decepados,
As torturas que os homens cogitam.

Ao sentir o sopro da vida
Fraquejar em seu pálido peito
A dor lhe cegará os sentidos
E à morte serás eleito.

Nesse lugar além dos últimos
Delírios de carnificina
Seus sonhos se rasgam nos afiadíssimos
Punhais de uma nova chacina.