sábado, 30 de abril de 2011

Diante do Abismo

E tornou-se primal,
Fruto da fome de sangue
De uma decadência final.

De súbito lhe sobreveio a ânsia absoluta,
Negada sob um luto obsceno
Da vida ainda nem vivida
Que a sua besta interior ainda refuta.

Chocaram-lhe as marcas humanas
Cravadas cruelmente na História,
E curvando-se diante do abismo
Ele teve um vislumbre de glória:

Leu imagens nos sons
E viu formas nas escalas,
Harmonizou os lamentos em melodia
E destrancou a porta de entrada
De uma dimensão só sua,
Na qual livrou-se de si mesmo
E reescreveu seu conceito de magia
Guiando as curvas da estrada
Da solenidade bacante e nua.

Ele fez de si algo mais
Ao romper com seu ser
E docemente rasgar
A cortina diante do Existir,
Firmou-se sob o seu império
De múltiplas amplitudes
E a um libidinoso toque lunar
Fez o Universo sorrir.