sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Riscado

Espalhados pelo chão
Estão os míseros fragmentos da minha vida,
Nenhum dos quais vale apena
O esforço de se abaixar para erguer.

São passados em vão
De uma vida regressa tola e mal-vivida,
Sufocada por uma dor amena
Que não mata, porém não deixa viver.

Do alto de uma escada eu contemplo, então,
Os pedaços quebrados de uma volta sem ida,
A solidão controversial de um trema
Riscado das regras, sem lugar para haver.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Fim dos Meus Tempos

Agora que perdi tudo que fui
Sou algo que ainda não tenho,
Tornei-me a dor da esperança que rui
Perante a perda constante,
Contínua e angustiante
Das cicatrizes que ainda retenho,

Lembro sem querer do nada
Em que me encontro agora,
Receando um passo em falso
E aguardando uma nova aurora
Que irá me libertar,
Me deixará ser quem sou,
Me lançará ao abismo
E me dará asas

Para que eu possa planar acima
Do passado, meu e dos outros,
Roçar de leve os telhados
Feitos de desgosto
E ainda assim
Olhar o horizonte belo
Sem sofrer sua perda ou ânsia.

E viver da eternidade dos momentos
Nos quais o tempo já é passado,
Dos quais quero tornar-me alado
E ao lado destes voar
Até o fim dos meus tempos.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Vão

O tempo é vão,
Um vão entre os pensamentos
Apaixonados ou não
De pessoas que deixaram de se conhecer,

O tempo é vão
Por entre as palavras que não queriam ser ditas
E entre a escolha de dizê-las.

Nas horas solitárias
O tempo é um vão
Por onde se olha, em si, a solidão,

Mas para quem a dor é indiferente
E a existência é ausente,
Cujo coração já não é fértil
E as sementes já secaram

O tempo deixa de ser um vão
E o tempo passa a ser
Vão.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Resposta Pessoal

Somos sempre seres afims:
Eu de cá repleto de ti,
Tu de lá insatisfeita de mim,
Podemos, talvez, as aflições unir,
Mas a satisfação, por nosso haver,
Por nosso existir, nunca há de vir.

Quando soletro a paz que há em mim
Cada sílaba sai dura, cruel,
Porém minhas orações rebuscadas com fúria
São para mim doces - mel.

Entendes então a contradição
Do viver enquanto existir?
É fato que vives para não viveres
Mas existes para viver.

Então para que o viver?
E para que o existir?
Em mim as questões se desmancham:
Notas, versos, drogas, risos,
Seios, nádegas e aí está, meus caros:
Sexo é tudo.
E foda-se o resto.