Rachaduras no asfalto frio,
Vergalhões expostos, corroídos
Pela ferrugem, poeira sobre os detritos
Que adornam a avenida do vazio.
Por entre as fendas no concreto,
Em meio ao lixo decomposto,
Junto aos ratos sob o céu aberto
O Catador se arrasta sobre o próprio rosto.
Curvado sob a solidão pesada,
Sentado aos degraus da escada,
Alivia a fome com as migalhas de afeto.
Abaixo da linha de visão,
Dentro da caverna de Platão,
O Catador rasteja por seu caminho incerto.
Consumido pela luxúria
Pela luz que fere seus olhos,
Esgotado por dor e fúria,
Saturado de todos os modos,
O Catador já não se lamenta,
Já não relativiza seu pesar,
Sua mente já não sustenta
A ânsia de continuar.
Reduzido a si mesmo
E só sob o manto solar,
Catando os restos a esmo
Sem jamais conseguir levantar.
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