Viveria eu num mundo desigual,
Onde a minha única arma
Seriam as curvas corpóreas, temporárias?
Seria eu fadado à exposição necessária,
Á fraqueza interna, à dependência arbitrária?
Eu seria um pária.
O desgosto me invadiria os pulmões,
E eu me julgaria inapto à sobrevivência.
Eu seria propriedade, seria posse,
Nunca proprietário d'um igual.
Eu pensaria menos, não por opção,
Mas por ser destinado a ser sensual.
Eu seria o Mal.
Seria pecado, impureza,
Gado, sutileza,
Servo, com certeza.
Mas será que seria?
Ou será que sou?
Serei eu o Mal gerado
Pondo a culpa do próprio Ser
No lado errado,
Na origem do meu viver?
Serei eu o criador dos rótulos
Que grudam ao nascer
E não se desfazem jamais?
Sou a manifestação dos medos,
A insegurança dos segredos,
A manutenção da quimera
Da auto-degeneração.
Vivo, então, em desgraça plena,
Numa vantagem obscena,
Cruel, sem pena,
Para com quem não tem culpa
De nascer com o dom da Vida.
Personifiquei a inveja
Através de milênios de repressão,
Colocando-me acima e fazendo crer reais
Essas minhas palavras,
Vigiei de perto a provação alheia
E a santifiquei, criei mártires entre elas.
Agora a culpa me habita.
O plasma mensal não lava
As lágrimas do sofrimento,
Nem o alívio de um momento
Sacrifica para si um intento
De ser livre, igual, maior
E, enfim, monumento.
Aqui eu só as suplico:
Abdiquem da dor e da culpa,
Sejam amazonas na luta,
Sejam poetas da conduta,
E tornem-se o que nasceram para ser.
Mulheres.
Muito lindo! Amei!
ResponderExcluirBonito pra caramba!!!!
ResponderExcluirVc é o cara! Meu carinha...
Te amo!!!
Bom demais poder estar c/ vc de novo...
"E tornem-se o que nasceram para ser"
Nasceu de mim!