Pois
É um cadáver numa cova de dois,
Preso ao chão por correntes
Geladas que o envolvem
Dos pés à cabeça,
Completamente.
É um lugar sem luz
Onde a vegetação não vinga,
Mesmo assim um espantalho preso numa cruz
Fica ali, dia e noite à míngua.
Desmancharam as paredes do meu túmulo
Como se desmancha marcas na areia,
Sem muito esforço, com desdém,
Como em quem não corre sangue nas veias.
E depois de dar tudo que tinha e ser morto pelas costas
Meu túmulo é derrubado num insulto final,
Minha lápide sem recado é jogada sobre o sal
Que cobre o solo à volta do meu caixão,
Para eliminar quaisquer possibilidades
De manifestação das minhas últimas vontades
Que poderiam germinar nesse sujo chão
Desse triste vão
Que é o meu coração.
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