segunda-feira, 9 de maio de 2011

Único Desejo (Despedida)

 Me alegraria conhecer alguém
Que tivesse penetrado no véu da infelicidade
Tão profundamente
Que a esperança se torna indiferente
E o que há são os arrependimentos passados
E a agonia do presente.

Eu gostaria de conhecer alguém
A quem a existência por si só não mais tivesse sentido,
A quem uma dor lancinante e constante
Flagelasse o coração partido,
Alguém sem correspondente.

É para mim extremamente doloroso o suportar
Das memórias ainda vivas e incontroláveis
De passados recentes, e impossível tolerar
As possibilidades que houveram de caminhos diferentes
Que agora rondam a minha mente, livremente.

Já não vejo sentido algum em suportar essa agonia,
Não tenho mais nada. Não sou mais nada.
Não desejo mais nada, perdi tudo.
Só quero descansar e esquecer...

Esquecer de tudo e deixar de ser,
Gentilmente passando para o repouso eterno
E sem consciência de que nada está para acontecer.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Túmulo

Meu coração é um túmulo

Pois

É um cadáver numa cova de dois,
Preso ao chão por correntes
Geladas que o envolvem
Dos pés à cabeça,
Completamente.

É um lugar sem luz
Onde a vegetação não vinga,
Mesmo assim um espantalho preso numa cruz
Fica ali, dia e noite à míngua.

Desmancharam as paredes do meu túmulo
Como se desmancha marcas na areia,
Sem muito esforço, com desdém,
Como em quem não corre sangue nas veias.

E depois de dar tudo que tinha e ser morto pelas costas
Meu túmulo é derrubado num insulto final,
Minha lápide sem recado é jogada sobre o sal
Que cobre o solo à volta do meu caixão,
Para eliminar quaisquer possibilidades
De manifestação das minhas últimas vontades
Que poderiam germinar nesse sujo chão
Desse triste vão
Que é o meu coração.